A Eneva iniciou trabalhos de sísmicas na Bacia do Paraná, entre
os Estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, onde planeja buscar gás
natural em uma campanha exploratória que não acontece na área há
mais de 20 anos.
O comunicado foi feito pela companhia (BOV:ENEV3) nesta
segunda-feira (07).
A empresa do setor de petróleo e gás e energia elétrica também
buscará nessa campanha encontrar reservatórios salinos com
potencial para projetos de captura e armazenamento de dióxido de
carbono, disse um diretor da companhia à Reuters.
As sísmicas, cujos primeiros registros começaram no mês passado,
preveem investimentos de R$ 200 milhões e deverão durar cerca de um
ano e meio, segundo o diretor de Exploração, Reservatório e
Tecnologias de Baixo Carbono na Eneva, Frederico Miranda.
A expectativa da empresa é iniciar uma campanha de perfurações
na região provavelmente em 2027, o que interromperia um jejum de
poços exploratórios e produtivos de mais de 20 anos na Bacia do
Paraná, que abrange os Estados do rio Paraná, segundo dados da
reguladora ANP.
“A gente vai procurar gás natural, mas toda informação que a
gente adquirir pode ser utilizada também para avaliação no projeto
de captura e armazenamento de carbono”, afirmou Miranda.
O executivo revelou que a empresa já está em conversas com
usinas de etanol, cujo carbono emitido nas operações poderia ser
capturado nos reservatórios, em movimento que poderia ajudar a
descarbonizar a atividade.
As usinas de cana buscam ter a menor pegada possível de carbono,
já que esse componente interfere na Nota de Eficiência
Energético-Ambiental dos produtores de biocombustíveis. Quanto
melhor, mais Créditos de Descarbonização (CBios) podem ser emitidos
por essas empresas, o que impulsiona suas receitas.
Miranda não revelou nomes das usinas interessadas.
A proximidade das usinas com os ativos que serão explorados pela
Eneva, segundo ele, permitiria reduzir custos relacionados ao
transporte do CO2.
Miranda comentou que quando a Eneva arrematou os quatro blocos
na Bacia do Paraná, no segundo ciclo de oferta permanente da ANP,
em 2021, tinha uma estratégia bem focada no potencial de gás
natural na região.
A companhia é operadora dos blocos, com 70% de participação, e
tem a Brava — nova petroleira formada pela fusão entre 3R e Enauta
— como sócia.
RESERVATÓRIOS PARA USINAS
Porém, ao avançar com projetos relacionados à descarbonização,
chamaram a atenção da Eneva dados geológicos sobre a bacia,
apurados no passado pela Petrobras e também por universidades e
outras empresas, sobre as estruturas geológicas que poderiam
armazenar carbono.
“Reservatórios salinos são rochas profundas, onde a água que
estava dentro não (serve) nem para uso humano, nem para uso
industrial… Muito se fala de reservatórios depletados, que são uma
opção (para o armazenamento de CO2), mas aí você vai estar restrito
a locais onde havia um campo de petróleo ou gás”, destacou.
Miranda ponderou que prospecções apenas para projetos de captura
e armazenamento de carbono poderiam ter uma “remuneração incerta”,
mas que a associação da ideia com a busca da companhia por gás
trouxe mais valor à iniciativa.
O executivo adicionou que a possibilidade de capturar CO2 de
usinas de etanol se mostrou também mais atrativa do que em suas
próprias termelétricas em outras localidades, não só apenas pela
proximidade.
“Em uma usina termelétrica de ciclo combinado, como são a
maioria das nossas, aquela fumaça branca que a gente vê saindo dá
4% de CO2. Então você tem que ter um aparato enorme para capturar
4% de CO2. Já numa planta de produção de etanol, no processo de
fermentação, a exaustão é de 95% a 98% de CO2 puro”, afirmou.
Dessa forma, os custos com a etapa de captura do CO2 seriam
reduzidos.
Miranda também destacou que o Brasil carece ainda de um mercado
regulado de carbono, que permitiria maior impulso a projetos como
esse.
A captura e estocagem geológica de dióxido de carbono (CCS)
estão previstas no projeto de lei “Combustível do Futuro”, que
aguarda sanção presidencial.
Por ora, Miranda afirmou que a companhia já tem gerado impactos
econômicos positivos na região onde atua na Bacia do Paraná, com
cerca de 500 empregos diretos a partir dos prestadores de serviços
da companhia relacionados à sísmica, que acaba por gerar empregos
indiretos ligados a hotelaria, refeição, lavanderia, transporte,
dentre outros.
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