2023 não foi um ano exatamente positivo para as ações das
companhias brasileiras do setor de papel e celulose, que têm, até
então, altas pouco relevantes na comparação com o restante do
Ibovespa. E a verdade é que, para analistas, o próximo ano também
não deve ser de grande entusiasmo.
Enquanto o principal índice da Bolsa brasileira acumula uma alta
de mais de 18% desde janeiro, os papéis ordinários da Suzano
(BOV:SUZB3) e os unitários da Klabin (BOV:KBLN11) sobem,
respectivamente, algo próximo a 5% e 6%.
Os preços da celulose continuam pressionados, apesar de longe
das mínimas, registradas em maio. Ao longo do 2023, a commodity
sofreu por conta da entrada de capacidade em operação que é
acompanhada ainda de uma menor demanda. Na América do Sul, por
exemplo, a Bracell, planta no interior de São Paulo, e o projeto
Mapa, da Arauco no Chile, passaram a operar nos últimos meses.
Ao mesmo tempo, a economia da China, principal compradora do
produto no mundo, não animou.
A partir de junho, porém, empresas que distribuem a commodity na
segunda maior economia do mundo aproveitaram o momento de baixa
para começarem a recompor seus estoques. Os preços, com isso,
tiveram uma recuperação – sendo que, além da China, regiões como
Oriente Médio, África e Sudeste Asiático também ajudaram na
demanda.
Inflexão da celulose?
O Bank of America, em relatório da última semana, porém, apontou
que os dados de novembro sugerem que a “demanda pelo produto pode
ter ultrapassado seu pico”, trazendo um tom de que o melhor já pode
ter ficado para trás.
“Novembro foi outro mês de dados com fortes altas em uma base
anual, mas mais fracos sequencialmente, indicando que o mercado de
papel e papelão na China pode já ter atingido seu ápice”, diz o
time, chefiado por Caio Ribeiro. “Os estoques agregados aumentaram
3,7% mês a mês, liderados por aumentos de estoque em todas as
categorias, exceto papel revestido”.
O Santander, por sua vez, espera que no primeiro semestre de
2024 os fundamentos continuem apoiando os preços das commodities
por volta dos US$ 630 a tonelada de fibra curta (BHKP), bem acima
dos US$ 475 registrados no meio deste ano.
“Esperamos que os mercados de celulose permaneçam relativamente
equilibrados no primeiro semestre, antes de enfrentarem um ligeiro
excedente de oferta no segundo, devido ao start-up do Projeto
Cerrado”, diz a equipe do banco, liderada por Aline Cardoso.
Para o banco, o mercado irá absorver o ramp-up dos projetores de
MAPA e Paso de los Toros, já que os estoques continuam abaixo do
normal em toda a cadeia, apesar das recentes altas.
“Esperamos que a oferta de celulose de fibra curta aumente 4% no
ano em 2024, enquanto prevemos que a demanda cresça 10% no mesmo
período (ou 8% considerando ambas as fibras). Do lado do consumo,
apesar das crescentes preocupações com a atividade global,
destacamos o perfil resiliente da demanda de celulose, sendo que
aproximadamente 50% do uso final de celulose está relacionado ao
mercado de tissue – papel higiênico, toalhas de cozinha, etc”,
explicam.
Além disso, o Santander cita que o aumento dos períodos de
paradas inesperadas e o suporte de custo mais elevado também devem
ajudar a amortecer os preços.
“Vemos os preços das ações de Papel & Celulose refletindo os
preços da celulose próximos a US$ 530 a tonelada, abaixo do custo
marginal atual da indústria, de US$ 580, e do nível de preço do
meio do ciclo. Como resultado, prevemos agora preços de celulose de
fibra curta de US$ 610 à tonelada na China para 2024 (contra US$
600 anteriormente), o que acreditamos que poderia desencadear uma
sólida geração de Fluxo de Caixa Livre”, fala o Santander.
Divergências
Eles mencionam ainda o fato de a demanda estar melhorando na
Europa, o que daria um alívio, bem como o avanço dos preços do
papel, que dá melhores margens para as fábricas desse produto e
permite às produtoras de celulose repassarem custos.
O Goldman Sachs, em relatório publicado na última semana, também
menciona a maior produção de papel na China – mas com outro
viés.
Segundo um levantamento feito pelo banco americano, algumas
linhas como sulfite e papéis para higienização (“tissue”) caíram
cerca de 150 iuanes a tonelada, enquanto os preços do papel gráfico
aumentaram 110-200 iuanes.
A RISI, uma das principais fontes de informações sobre os
mercados globais de papel, ainda tem falado que os armazéns dos
distribuidores estão agora cheios e as carteiras de encomendas
começam a enfraquecer sazonalmente.
“Acreditamos que a produção agressiva de papel da China nos
últimos meses foi apoiada por exportações elevadas e pela reposição
de estoques em um ambiente de aumento dos preços da celulose. Com o
reabastecimento chegando ao fim, enfraquecimento sazonal da demanda
e pausa no aumento do preço da celulose, esperamos que haja mais
fraqueza nos preços do papel no futuro (e também alimente o
potencial declínio do preço da celulose)”, avalia o Goldman.
Já para a celulose, o GS acredita que a pressão por preços mais
baixos está aumentando, especialmente no ano novo chinês
sazonalmente fraco e antes do início de um grande projeto de
celulose em junho de 2024.
Suzano e Klabin
Com os cenários pouco otimistas para o papel e para a celulose,
os analistas acabam, por enquanto, focando mais no operacional de
cada empresa para decidir suas recomendações.
Atualmente, a Suzano é a favorita da maioria das casas, tendo,
segundo o Eikon, 12 recomendações de compra, três neutras e uma de
venda, com preço-alvo médio de R$ 64, upside de 24,3% frente ao
fechamento de ontem. A Klabin tem apenas quatro recomendações de
compra, nove neutras e duas de venda, com preço-alvo medio em R$
26,88, potencial de alta de 12,4% na mesma comparação.
O Santander, que tem a Suzano como sua top pick no setor,
justifica que a opção se dá por um misto de valuation atrativo,
potencial de alta do Ebitda e iniciativas de crescimento atraentes
(sendo que o Projeto Cerrado, apontado como a principal entrada de
capacidade no próximo ano, é da companhia).
O Itaú BBA, por sua vez, destacou que vê que uma melhora no
perfil de geração de fluxo de caixa livre (FCF) está chegando para
a Suzano por conta do fim da construção da nova planta. Na última
sexta-feira, a companhia soltou que prevê investimento de R$ 14,6
bilhões em 2024, ante expectativa de desembolsos de R$ 18,5 bilhões
neste ano.
“Em termos absolutos, notamos a desaceleração significativa na
implantação total de investimentos em relação aos níveis de 2023, o
que por si só se traduz em um rendimento de FCF ‘adicional’ de
4,8%”, avalia o banco.
O banco acredita que o perfil de geração de fluxo de caixa livre
da Suzano melhorará significativamente a partir da segunda metade
do ano que vem, dado o menor desembolso para projetos de
crescimento e a contribuição para o Ebitda do Projeto Cerrado.
Olhando de forma setorial, o BBA segue com preferência por
Suzano à Klabin, por conta do valuation e maior exposição da Suzano
ao negócio de celulose, que acredita poderá continuar a surpreender
positivamente os investidores com um comportamento de preços mais
resilientes em 2024 e além.
Na Klabin, do outro lado, o nível de investimentos, para
analistas, continua alto, já que a companhia continua desenvolvendo
o seu projeto de Puma II. Serão R$ 4,5 bilhões previstos para 2023
e mais R$ 4,5 bilhões ao longo de 2024.
O Itaú BBA cortou a recomendação para a unit da Klabin de
marketperform (desempenho em linha com a média do mercado,
equivalente à neutra) para underperform (desempenho abaixo da média
do mercado, equivalente à venda) também devido a perspectiva de
fluxo de caixa (FCF) limitado após a incorporação das novas
projeções de despesas de capital e resultados mais fracos do que o
esperado para 2024.
Para a XP, embora as indicações de custos e investimentos não
tenham sido materialmente diferentes das suas estimativas, houve
reação negativa do mercado por conta do aumento de preocupações
sobre a geração de fluxo de caixa no futuro próximo devido a
desembolsos de investimentos potencialmente maiores por mais tempo.
“Reiteramos nossa visão neutra sobre a Klabin principalmente em
relação aos níveis de valuation pouco atraentes”, avalia a
casa.
Informações Infomoney
Grafico Azioni SUZANO PAPEL ON (BOV:SUZB3)
Storico
Da Apr 2024 a Mag 2024
Grafico Azioni SUZANO PAPEL ON (BOV:SUZB3)
Storico
Da Mag 2023 a Mag 2024