A ideia de que a união entre as empresas de varejo de moda
Arezzo&Co e Grupo Soma pode enfrentar obstáculos no processo de
aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
dividiu especialistas consultados pela Reuters, com alguns
considerando que o futuro megagrupo pode ter aprovação condicionada
a algumas exigências e outros não vendo a possibilidade de grandes
ressalvas à frente.
“O Cade, de muitos anos para cá, tem tido uma postura bastante
positiva nesse setor”, disse Ulysses Reis, coordenador de Varejo da
Strong Business School (SBS), conveniada da Fundação Getulio Vargas
(FGV), citando fusões anteriores como entre Antarctica e Brahma,
DirecTV e Sky e, mais recentemente, Nestlé e Garoto.
Reis observou que o Cade não tende a impedir esse tipo de fusão,
mas pode condicionar a aprovação à retirada de alguma marca do
negócio, como aconteceu com a Bavaria, vendida por determinação do
órgão regulador para a operação que criou a Ambev.
“Ele (Cade) pode levantar a questão, por exemplo, da Hering…
alegando que, pelo fato da Hering ter um peso tão grande, uma
capacidade produtiva tão grande, pode criar uma espécie de
desequilíbrio no mercado”, disse Reis, descartando, contudo, a
possibilidade de outros questionamentos.
“São marcas diferenciadas, cada uma tem um posicionamento de
mercado voltado para um público diferente. Algumas têm produtos
diferentes. Então, quer dizer, isso não afetaria o mercado de moda
em si.”
As redes de varejo de moda anunciaram no início da semana um
acordo de associação para formar uma empresa com faturamento de R$
12 bilhões. Juntas, elas terão 34 marcas sob gestão, entre elas
Schutz, AR&CO, Anacapri, Farm, Hering, Animale e NV, e mais de
2 mil lojas próprias e franquias.
Para a coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de
Moda da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Marília
Carvalhinha, muito dificilmente a fusão vai sofrer alguma
reprovação pelo Cade.
“Apesar de ser um número expressivo (R$ 12 bilhões), a gente não
consegue identificar aí uma concentração perigosa de mercado, já
que o mercado de moda brasileiro fatura em torno de R$ 200, R$ 250
bilhões por ano”, afirmou.
Carvalhinha mencionou o faturamento da Lojas Renner, que teve
receita consolidada de R$ 13,2 bilhões em 2022, acrescentando que o
setor de moda é muito pulverizado.
“Se a gente for pensar, por exemplo, uma Renner fatura
aproximadamente R$ 13 bilhões por ano, que é a nossa maior
varejista de moda no Brasil, com uma marca só, uma empresa só.”
Alberto Serrentino, fundador e consultor da Varese Retail
Strategy, compartilha da visão e não vê interposição ou limitações
grandes por parte do Cade.
No caso da Hering, Serrentino explica que a marca não compete,
por exemplo, no mesmo segmento que a rede Reserva, adquirida pela
Arezzo em 2020 por R$ 715 milhões. A Cia. Hering recusou em 2021
uma proposta de fusão da Arezzo (BOV:ARZZ3).
“Não deve haver, do ponto de vista estrutural, nada que impeça a
aprovação”, disse.
A data prevista para a conclusão do negócio, que também depende
do aval de acionistas, é a partir de 2025, segundo executivos das
companhias. O diretor financeiro da Arezzo&Co, Rafael Sachete,
disse a jornalistas no início da semana que o acordo não será uma
questão complexa de aprovação dentro do Cade.
A analista de varejo da Levante Corp, Caroline Sanchez, também
sugere que o Cade pode impor condições para a aprovação.
“Talvez a venda de ativos, não sabemos ao certo ainda, mas não
tem como se descartar, porque é uma concentração grande de marcas”.
Sanchez, no entanto, afastou a possibilidade do órgão barrar a
operação.
Os executivos das empresas afirmaram a jornalistas que não
pretendem se desfazer de nenhuma das 34 marcas, com o presidente do
Grupo Soma (BOV:SOMA3), Roberto Jatahy, dizendo ainda que “as
oportunidades de M&A são grandes” na vertical de vestuário
feminino, que é mais pulverizada, onde a nova empresa tem menos
participação.
Para Sanchez, o fato de as marcas estarem um “pouco mais
concentradas” no segmento premium, sem concorrer diretamente com
participantes como Renner ou Riachuelo, também é “um pouco mais
positivo para a transação”.
A Arezzo&Co tem uma participação de mercado de cerca de 30%
no mercado de calçado e acessórios, contra 9-10% de Lojas Renner,
cerca de 7% da Guararapes, dona da Riachuelo; 6% da C&A, 2,5-3%
da Marisa e 5 a 6% do Grupo Soma, afirmou Sanchez, citando dados da
empresa britânica de pesquisa de mercado SimilarWeb.
“Vale lembrar que, por mais que vá se tornar uma grande holding,
elas vão ter gestões independentes… A forma como está sendo
desenhada essa transação, já está sendo pensada nessa questão de
uma possível concentração de mercado que poderia sofrer algum
impasse com o Cade.”
Informações Reuters
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