Depois de entrar atrasada na chamada “guerra das maquininhas”, a
Granito Pagamentos está se preparando para a próxima fase da
disputa, em que os grandes descontos em tarifas que marcaram os
primeiros anos da batalha darão lugar à escala e robustez de
tecnologia.
Para isso, a credenciadora do Bmg (BOV:BMGB4) e do Inter está
reforçando seu caixa com um aporte de R$ 70 milhões feito pelos
dois sócios e trazendo Henrique Capdeville para o cargo de CEO da
companhia.
Os dois movimentos visam a manter o forte ritmo de crescimento
do volume de transações e começar a ganhar espaço dentro do mercado
de adquirência.
“A Granito chegou a um estágio de consolidação em que deixa de
ser uma empresa de nicho, de atender apenas segmentos marginais da
economia, para tentar uma briga por Libertadores”, diz Capdeville
em entrevista ao NeoFeed, referindo-se ao principal torneio de
futebol da América do Sul. “Vamos consolidar a empresa como um dos
principais players do Brasil.”
Executivo experiente, com mais de 30 anos de trajetória na
indústria de meios de pagamento e passagens por empresas como
Mastercard, Redecard e Banco Pan, Capdeville não estará sozinho
nessa tarefa. Para ajudá-lo, chega também Renato Catalan, então
superintendente de operações do Inter, que assume como diretor de
operações da Granito.
Com as mudanças, os fundadores da Granito, Rodrigo Teixeira e
Roberto Masotti, estão deixando a empresa. A saída resultou na
venda do restante de suas participações minoritárias na Granito.
Agora, Bmg e Inter passam a deter, cada um, 50% da companhia.
Capdeville diz que a prioridade da Granito para os próximos anos
é ganhar escala e crescer o volume de pagamentos. Entre 2021 e
2022, o volume total de pagamentos (TPV) processado aumentou mais
de duas vezes, para R$ 16 bilhões. A expectativa é novamente dobrar
o montante neste ano.
Para manter esse ritmo, a ideia é alcançar novos segmentos.
Fundada em 2015 com o nome Pago Cartões, a Granito focava sua
atuação em pequenos comerciantes, salões de beleza, oficinas e
lojas de roupas, público com o qual formou uma base de 100 mil
clientes.
Agora, a Granito vai buscar clientes maiores, que tenham TPV
mensal de cerca de R$ 1 milhão. Esse grupo, segundo Capdeville,
apresenta uma maior receita média por cliente, um aspecto muito
importante para outro pilar do plano de negócios, que é fortalecer
a rentabilidade.
A companhia não apresenta balanços, mas as demonstrações
financeiras do quarto trimestre do Bmg mostram que a Granito
apresentou um resultado de equivalência para o banco negativo de R$
17,4 milhões no ano de 2022, acima do saldo negativo de R$ 400 mil
de 2021.
Segundo o banco, o desempenho foi afetado por investimentos para
expansão da empresa. “Quanto maior o spending médio, maior a
antecipação [de recebíveis], maior o resultado e isso faz com que
tenhamos um ganho significativo de volume de operações e
rentabilidade”, afirma.
Para expandir seu portfólio de clientes, a Granito conta com o
uso das redes de distribuição do Bmg e do Inter, como agências e
aplicativos. A companhia quer direcionar seus próprios canais
diretos para buscar clientes maiores. Atualmente, atua com 130
filiais espalhadas pelo Brasil, oferecendo serviços a quase 4 mil
municípios.
Junto com o aumento da rentabilidade e dos volumes
transacionados, o terceiro pilar do plano de gestão de Capdeville
para a Granito é melhorar a plataforma de tecnologia. O aporte de
R$ 70 milhões dos sócios servirá para preparar a infraestrutura
para atender clientes com volume de transações maiores.
“Estamos revendo nossa infraestrutura para lidar com esses
volumes, porque dobrar a cada ano traz desafios significativos”,
afirma Capdeville. “É nisso que estamos focados para os próximos
três anos.”
Caminho difícil
O caminho da Granito até as primeiras posições não será fácil. O
TPV que a empresa registrou no ano passado representou cerca de
0,5% dos R$ 3,3 trilhões do valor total transacionado pelo setor de
cartões brasileiro, de acordo com dados da Associação Brasileira
das Empresas de Crédito e Serviços (Abecs).
A Cielo, principal nome do setor, respondeu no ano passado por
cerca de 26% do TPV do mercado. A participação da Stone ficou em
torno de 12% e da PagSeguro alcançou 10,7%.
Para conseguir avançar na tabela, Capdeville considera a
tecnologia o diferencial para enfrentar a concorrência daqui para
frente na “guerra das maquininhas”.
A quebra do duopólio exercido por Redecard e Cielo, que detinham
a exclusividade de processamento de pagamentos das bandeiras
Mastercard e Visa, respectivamente, abriu o caminho para a chegada
de nomes como Stone, PagSeguro, GetNet e Mercado Pago.
Com isso, começou-se uma disputa por preços que pressionou as
margens das companhias. A alta dos juros, no entanto, fez que
muitas das empresas que chegaram para fazer frente aos incumbentes
perdessem força.
“Nestes últimos dez anos, todo o ganho e conquista de clientes
foi baseado na oferta de menores taxas”, afirma Capdeville. “Agora,
estamos perto de um modelo em que a taxa não vai ser mais
discutida.”
Segundo Capdeville, o mercado de adquirência deve passar por uma
transformação, com consolidação dos chamados subadquirentes e
distribuidores. E quem quiser sobreviver precisará oferecer
tecnologia em que o fluxo da transação seja mais rápido e sem
riscos de queda.
Essa transformação, entretanto, não é nova. Empresas como Cielo,
Stone e Getnet já contam com sistemas de tecnologia e ERP para dar
suporte aos varejistas. A compra da Linx feita pela Stone, em 2020,
foi feita de olho nisso.
Para Fabricio Winter, sócio da RD Inteligência, consultoria
especializada em serviços financeiros, a agregação de serviços por
empresas de adquirência tem sido um movimento nesta nova fase da
“guerra das maquininhas”, em que já não há mais como ter grandes
diferenciações no lado das tarifas.
“As adquirentes finalmente passaram a olhar para os varejistas e
buscam atender as carências que possuem”, afirma Winter. “O varejo
viu que não vale brigar por centavos no preço, mas sim buscar
alguém que entregue uma solução completa de serviços.”
Informações Neofeed
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